domingo, 30 de novembro de 2025

Livro fechado. 16/11/2917

Um livro fechado.

Um livro sem letras ou desenhos.

...

“ Houve uma mulher que de tanto ler, sonhou ser escritora.

Depois deste sonho a mulher passou a viver e escrever sobre tudo.

A mulher escreveu romances, contos e poemas.

Publicou livros e viveu seus personagens.

Na verdade a mulher achava-se escritora e como tal, trilhou o mundo dos escritores, sem perceber que sua presença era aceita apenas por delicadeza.

A mulher que sonhava ser escritora, caminhou feito Dom Quixote, enxergando apenas os moinhos dos seus sonhos literários.

Correu feiras literárias impondo a presença de seus livros, buscou livrarias forçando e cedendo seus livros, participou de concursos denominados antologias, onde a participação está vinculada ao pagamento de cotas. A mulher sentia-se escritora.

Toda a indiferença nas feiras literárias, livrarias e lançamentos eram interpretados como conquistas vagarosas, havia a convicção de que o reconhecimento chegaria.

A mulher que sonhava ser escritora vivia plenamente seu sonho.

Acreditava que seus escritos eram fabulosos. Lia e os relia para todos.

A mulher sonhadora deu entrevistas em uma emissora de TV e lutou bravamente tal qual Dom Quixote.

Como em qualquer sonho, a mulher acordou vencida pela realidade.

A tristeza e a vergonha aniquilaram a guerreira-mulher-escritora que lutava bravamente de caneta em punho.

Restou um grande vazio.

A realidade nua e crua foram lanças a rasgarem seus sonhos.

A mulher que de tanto ler acreditou ser uma escritora, secou e virou um livro sem letras ou desenhos, apenas páginas em branco.


Elise Schiffer