Durante muitos dias, 1.959 dias, uma mulher vazia de amor orou suplicando para ver seu amor. Um instante a mais bastaria com seu amado. Tempo suficiente para sussurrar ao seu ouvido "Eu te amo". Incansavelmente ela pediu, implorou, chorou, suplicou e por vezes se revoltou.
O tempo correu...
A dor passou. As lágrimas secaram. A saudade aquietou-se e as lembranças transformaram-se num jardim, que abrandou a revolta da mulher vazia de amor com Deus.
A fé da mulher vazia de amor era pequena, com o tempo secou e tornou-se pó.
A mulher vazia parou de orar, sua estrada era um deserto e as súplicas ficaram sem sentido.
Um dia sem mais nem menos, a mulher vazia de amor ouviu uma batida à sua porta. Como a batida era fraca ela fingiu não ouvir. Novamente a batida insistiu e a mulher vazia de amor resolveu atender.
- Bom dia! O que deseja? Por que não usou o interfone?
- Calma. São muitas perguntas. Desejo falar com você mulher vazia de amor e de fé. ( Diz o Anjo)
- Você é louco! Não posso recebê-lo em minha casa porque não o conheço, além do mais não estamos no carnaval e você está usando asas.
- Estou usando asas porque sou um anjo e vim por causa das suas centenas de orações. (Diz o anjo)
- Você é um anjo atrasado? Só agora ouviram minhas orações?
- Entenda que há muitos pedidos. Lá em cima existe um enorme rio de súplicas e algumas são urgentes, urgentíssimas. Nunca é tarde. Estou aqui para ajudá-la. (Diz o anjo)
- Agradeço mas não preciso mais de ajuda!
- Deixe-me entrar para que possamos conversar melhor. (Diz o anjo)
- Entre e não reclame do meu cachorro. Ele é minha companhia, meu amigo e filho.
- Não vou reclamar. Apenas vim ajudá-la. Todas as suas orações pediam para (Diz o anjo)
Antes que o anjo termine a frase a mulher vazia de amor o interrompe.
- Não preciso mais de ajuda!
- Você não deseja mais encontrar seu amor? (Pergunta o anjo)
- Não! Apenas o quero bem.
- Deseja pelo menos vê-lo de longe? (Pergunta o anjo)
- Não! Vai doer. Apenas o quero feliz.
- Você pode enviar uma mensagem, o que acha? (Pergunta o anjo)
- Não! Que haja paz no seu coração.
- Então o que você deseja agora? (Pergunta o anjo)
- Que ele esteja bem, junto dos que ama e com paz no coração.
- Então o que deseja para você? Porque todo mundo deseja algo. (Pergunta o anjo)
- Se você é um enviado dos céus sabe o que eu desejo, se não recebo é porque não mereço e meu dever é apenas seguir na jornada.
- Você está vazia por dentro e por fora. O que você tem de seu? (Pergunta o anjo)
- Amor pelos filhos, netos e as lembranças com minha montanha de rosas.
- Posso pedir-lhe algo? (Pergunta o anjo)
- Sim!
- Recite uma poesia. (Diz o anjo)
- Tenho muitas não sei qual escolher
- Qualquer uma, (Diz o anjo)
- Ouça essa.
"Dou-lhe um dia e uma noite de Rosas.
Rosas chá por gratidão,
Por cada olhar de amor que guardei no coração.
Rosas amarelas de saudades.
Dos nossos momentos juntos no caminhar.
Rosas vermelhas pelo amor que nos uniu,
Um amor companheiro, sereno e constante.
Dou lhe simplesmente um jardim,
Com caminhos de pétalas,
Representando nossas lembranças.
Um jardim impregnado com aroma das rosas,
Levado pela brisa viva do passado.
Substitui o sol por uma rosa alaranjada,
Unindo nossos dias num só dia.
Substitui a lua por uma rosa branca,
Unindo nossas noites num mesmo sonho.
Estrelas cadentes em forma de mini rosas,
Para que possamos ter um mesmo desejo.
Por fim uma chuva de rosas-beijos,
Para minha montanha de rosas."
Neste momento a mulher vazia de amor percebe uma chuva de pétalas em sua sala. Algumas lágrimas rolam em seu rosto e ela estende sua mão em direção ao anjo.
- Venha! Você entendeu o verdadeiro sentido de amar. Aqui não é mais o seu lugar.
De mãos dadas a mulher e o anjo caminham em direção a porta, ultrapassando a soleira da morte.
Elise Schiffer