Um livro fechado.
Um livro sem letras ou desenhos.
...
“ Houve uma mulher que de tanto ler, sonhou ser escritora.
Depois deste sonho a mulher passou a viver e escrever sobre tudo.
A mulher escreveu romances, contos e poemas.
Publicou livros e viveu seus personagens.
Na verdade a mulher achava-se escritora e como tal, trilhou o mundo dos escritores, sem perceber que sua presença era aceita apenas por delicadeza.
A mulher que sonhava ser escritora, caminhou feito Dom Quixote, enxergando apenas os moinhos dos seus sonhos literários.
Correu feiras literárias impondo a presença de seus livros, buscou livrarias forçando e cedendo seus livros, participou de concursos denominados antologias, onde a participação está vinculada ao pagamento de cotas. A mulher sentia-se escritora.
Toda a indiferença nas feiras literárias, livrarias e lançamentos eram interpretados como conquistas vagarosas, havia a convicção de que o reconhecimento chegaria.
A mulher que sonhava ser escritora vivia plenamente seu sonho.
Acreditava que seus escritos eram fabulosos. Lia e os relia para todos.
A mulher sonhadora deu entrevistas em uma emissora de TV e lutou bravamente tal qual Dom Quixote.
Como em qualquer sonho, a mulher acordou vencida pela realidade.
A tristeza e a vergonha aniquilaram a guerreira-mulher-escritora que lutava bravamente de caneta em punho.
Restou um grande vazio.
A realidade nua e crua foram lanças a rasgarem seus sonhos.
A mulher que de tanto ler acreditou ser uma escritora, secou e virou um livro sem letras ou desenhos, apenas páginas em branco.
Elise Schiffer
