sexta-feira, 23 de agosto de 2019

426 - Lembranças

As lembranças são chibatadas 
na carcaça que teima em viver.
Sem tréguas fazem sangrar 
enquanto outras apenas ardem.
Todos esperam que o sobrevivente 
triunfe sobre o luto.
As lembranças são como açúcar 
que adoçam e fazem mal.
Vão minando a esperança 
e asfixiando a pouco fé.
Todos esperam que o amor 
mingue com o passar dos dias.
As lembranças se tornam 
amantes da solidão.
A união é viva e escondida 
de todos que circulam a viuvez.
Todos esperam que a vida 
prossiga com a mesma agitação.
As lembranças formam mosaicos 
dos dias vividos em família.
A felicidade torna se relíquia 
no museu das bodas.
Todos esperam por abraços 
sem compreender a mutilação.
As lembranças são banhadas 
com lágrimas salobras da saudade.
Que não germinam nem morrem, 
apenas apodrecem lentamente,
Todos esperam que a morte 
não mate o sobrevivente sem vida.

De Elise para Rosemberg.
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