quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

2034 - Seixo











Houve um seixo sem eira nem beira, que sentia-se um diamante.
Presunçoso e altivo sentia-se o mais belo seixo do rio.
Tudo nele era perfeito e belo, apesar de sempre ocultar a verdade de si próprio.
Sua força vinha de sua imensa covardia.
Nas inundações deixava-se levar com ares de ser um rochedo, nas secas usava todo seu intelecto justificando o sofrimento.
Vivia sozinho porque ninguém era digno de sua beleza ou falso conhecimento.
O tempo rodou os quatros cantos do mundo até que um dia reencontrou seu amigo seixo-diamante num belíssimo pedestal.
- Oi meu amigo seixo-diamante como estais?
- Estou muito triste.
- Por que? Vejo que estais num belo lugar e em destaque.
- Sim! Faço parte da coleção de pedras de uma doce menina. Ela só vem aqui nas férias. O resto do tempo fico aqui neste quarto escuro e silencioso, a janela só é aberta raramente.
- Pelo que sei você vivia isolado de tudo e de todos.
- Eu estava errado. Sinto falta de todos. Sinto falta de companhia, do sol, da lua e das estrelas. Das águas do rio e de rolar junto com outros seixos.
- Meu amigo eu sou o tempo, faço o dia e noite caminharem para o futuro. Não tenho como levá-lo de volta ao rio. Não posso interferir no apego que os humanos tem pelas coisas.
- Tudo bem! Seguirei sonhando com dias melhores.
O tempo foi cumprir sua função.
O seixo ficou sozinho por anos, até que um dia sua doce menina cresceu, tornando-se uma bela jovem.
Em uma bela manhã de verão a jovem pegou seu seixo preferido e o transformou num cordão. Pendurou no pescoço e foi para um passeio em uma cachoeira.
La chegando o seixo sentiu muita alegria. Seu dia foi pura felicidade.
A tarde quando tudo estava sendo recolhido para o retorno, o seixo desejou com toda sua alma que queria ficar ali na natureza. Desejou e desejou.
A doce menina que hoje é uma jovem, sentiu um amor imenso pelo lugar. Agradeceu as águas, a vegetação e as rochas pelo dia magnifico. Neste momento ela segurou seu seixo, o beijou e o jogou nas águas da cachoeira.
Volte meu amigo ao seu mundo e seja feliz.
Assim o seixo sem eira nem beira, teve a oportunidade de um recomeço com mais humildade e respeito pela vida.

Elise Schiffer