Sombra e Mulher orando
Quando crianças eram só
com saudades sei lá do que
com saudades do desconhecido
Quando adultas eram só solidão
num deserto de amor
Quando cansadas oravam sem fé
para um Deus desconhecido
Oravam buscando por direção
e seguiam por caminhos tortos
Oravam pedindo para morrerem bem
e só conseguiam viver mal
Oravam para ficarem doentes
e tiveram saúde sem médicos
Oravam por promoções funcionais
e permaneciam estagnadas
Oravam para quitarem suas dívidas
e contraiam mais dividas
Oravam por amor e amaram pouco
porque o amor se foi sem volta
Oravam para escrever sonhos
e não conquistavam leitores
Oravam por uma família
e viviam solitárias de todos
Oravam por sonhos de amor
e sonhavam com indiferenças
Oravam pelo propósito da vida
e não obtinham respostas
Oravam... Pensavam...
Para onde vão as orações?
Quem as ouve?
Qual o critério para as petições?
Sombra e Mulher orando
Viver em silêncio com gritos interiores
é somente autoflagelação sem fim
Viver a velhice na sua decrepitude
é humilhação na frente das lembranças
Rolar dividas e as esconder de todos
é apenas humilhação moral
Amar um amor que não vive
é loucura que preenche
Escrever baboseiras sem leitores
é declamar versos em silêncio
Juntar a família e mesmo assim estar só
é ser de outro mundo para todos
Sonhar com buscas pelo amor sem vida
é pura negação do fim
Não entender o proposito da vida
é caminhar na esperança oca
Negar os pecados do passado
é mentir e seguir pecando
Perguntar onde é o depois?
e ter a resposta - não há um depois
Não importa qual seja o caminho
o vazio se fará presente
Orando... Fingindo...
Orações sem um Deus que as ouçam
e palavras sem fé da Sombra e da Mulher
Elise Schiffe